Introdução: Christopher Dunn - Desde 1976 vinha me questionando como a Pirâmide de Kéops (maior das três no vale de Gizé) havia sido construída, quem a construiu e qual tecnologia havia sido utilizada. Mesmo sem possuir dados científicos a respeito desses questões, as informações divulgadas sobre a construção desse monumento não me convenciam. Então, em agosto de 1984, quando li – na revista Análog – o artigo “Avançadas Máquinas no antigo Egito?”, escrito pelo egipitologo britânico William Flinders Petrie, iniciei a estudar as Piramides, especialmente a de Kéops, de forma metódica. Um ano depois já tinha iniciado pesquisas e estudos pessoais que culminaram em duas viagens ao Egito. Este artigo é um resumo do meu primeiro trabalho de pesquisas, medições, analises e teorias que realizamos nessas duas viagens.
Viagem ao Egito
Por sugestão dos arqueólogos fui até Assuão para ver de perto as marcas deixadas nas pedreiras pelos operários, e o enorme obelisco inacabado que lá se encontra. As marcas que vi da pedreira não me convenceram que os métodos descritos foram os únicos meios pelos quais os construtores das Pirâmides extraíram suas rochas. Pelo contrário, aumentaram mais dúvidas…
Na maioria das vezes, as ferramentas primitivas descobertas são consideradas contemporâneas dos artefatos do mesmo período. E durante este período da história egípcia os artefatos eram produzidos abundantemente, sem que tivessem sobrevivido ferramentas que explicassem sua criação.
Os antigos egípcios criaram artefatos que não podem ser explicados em termos simples. As ferramentas simplesmente não representam integralmente o estado da arte que se evidencia nos artefatos.
Na verdade isto é tão absurdo como dizer ele que o alumínio pudesse ser cortado usando-se um cinzel feito de manteiga. Métodos atuais do corte do granito incluem o uso de serras de fita e um abrasivo que tem uma dureza comparável à do diamante – duro o bastante para cortar o cristal de quartzo do granito. A serra não corta o granito, mas é projetada para agarrar o pó do abrasivo, que é o que verdadeiramente faz o corte.
Examinando as formas dos cortes feitos em duas peças de basalto, concluiu que é possível que uma serra de fita tenha sido usada, pois deixou sua impressão na pedra. O sulco no fundo do corte tem exatamente a forma do sulco que uma serra desse tipo deixaria.
Lembro-me que na ocasião me perguntei - "Se os antigos egípcios realmente usaram serras de fita para cortar pedras duras, elas foram impulsionadas à mão ou à máquina?" - Mesmo ponderando outras alternativas, minha experiência em metalurgia e no número incontável de vezes em que tive que usar serras manuais e elétricas, as evidências apontam para o uso de máquinas, a precisão e qualidades encontradas nesses artefatos é muito elevado para ter sido feito sem elas.
Na ocasião Petrie estimou que - “…teria sido necessário aplicar pressão de cerca de uma a duas toneladas sobre serras de bronze com pontas de pedras preciosas para cortar o granito extremamente duro” - Mas eu discordo deste ponto pois, se concordarmos com estas estimativas e com os métodos propostos por muitos egiptólogos com relação à construção das pirâmides, então uma forte incongruência existiria entre os dois.
Até hoje os egiptólogos não deram crédito a qualquer idéia que sugira que os construtores das pirâmides poderiam ter usado máquinas ao invés de energia humana neste grandioso projeto de construção. Petrie acreditava que - “…a lógica apontava para o fato de que os cofres de granito achados nas pirâmides de Gizé precisavam ser marcados antes de serem cortados, e que era necessário que houvesse uma linha guia para orientar os trabalhadores” -
E menos provável ainda que, então, retirassem a serra e repetissem o mesmo erro, como fizeram no sarcófago da Câmara do Rei. Não há absolutamente nada que confirme a especulação de que este objeto foi o resultado de trabalho puramente manual. A velocidade com que é operada uma serra manual permite que seu desvio em relação ao curso planejado possa ser detectado e evitado rapidamente.
Por outro lado, sendo a serra mecanizada ela pode cortar o material e ultrapassar a linha guia tão rapidamente que o erro é cometido antes que a condição possa ser corrigida. No sarcófago de Kéops a serra entrou muito profundamente, foi retirada, e então reintroduzida para que o corte fosse reiniciado em um só lado da incisão.
A uma velocidade tão lenta e com muito pouca pressão, a realização do objetivo seria quase, se não totalmente, impossível. Com uma serra mecanizada, por outro lado, a lâmina move-se rapidamente, e seu controle é possível. A lâmina pode ser mantida em uma posição fixa, com pressão uniforme por todo o comprimento da lâmina, e na direção necessária ao reinicio.
Esta pressão dianteira e lateral pode ser mantida com precisão até que material suficiente tenha sido removido da peça trabalhada para permitir a continuação na velocidade de corte normal. O fato que uma velocidade normal de corte foi atingida logo após a retificação do engano pode ser deduzido notando-se que no cofre da Grande Pirâmide o engano se repetiu cinco centímetros mais adiante. Este é outro exemplo da lâmina cortando o granito no lugar errado mais rapidamente do que foi possível aos homens detectar e interromper.
Esse método poderia ter sido utilizado no cofre da Pirâmide de Kéops. Mas caso isso tivesse realmente ocorrido, as linhas da serra que nele aparecem após o ponto em que foi cometido o engano seriam diferentes das linhas da serra antes do erro, porque elas estariam em ângulo. Entretanto isso não ocorre e todas as marcas deixadas pela serra antes e após o erro são horizontais.
Qualquer argumento propondo que o engano foi superado inclinando-se a lâmina, o qual, provavelmente, seria o único método eficaz usando-se uma serra manual, fica invalidado. Esta evidência aponta para a probabilidade totalmente diferente de que os construtores das Pirâmides possuíam maquinaria motorizada quando cortaram o granito encontrado dentro da Grande Pirâmide e da Pirâmide de Kéfren.
Segundo Petrie - “…os buracos foram feitos com brocas de tubo, as quais deixam um miolo central que precisa ser retirado depois do buraco ter sido feito. Só depois que todos os buracos foram feitos e todos os miolos removidos é que o cofre deve ter sido trabalhado manualmente para atingir a dimensão desejada” -
Aqui também foram cometidos erros e num dos pontos se nota que o orifício não foi feito de forma perfeitamente vertical na lateral do cofre além daquilo que estava previsto. Isso significa que mais uma vez, enquanto trabalhavam com a broca no granito, os operadores cometeram um erro antes de terem tempo para corrigi-lo, sendo que nesse caso o erro foi de aproximadamente 20 centímetros abaixo do topo original do cofre.
A especulação então é a de que se a broca fosse manual seria necessário redirecioná-la periodicamente para permitir a limpeza do miolo central do orifício. Dificilmente os operadores poderiam ter perfurado cerca de 20 centímetros granito adentro sem precisar remover suas brocas. Ora, se a broca fosse manual as retiradas frequentes inevitavelmente mostrariam o erro de direção cometido e jamais teriam mantido a broca no caminho errado por 20 centímetros de profundidade.
A evidência de trabalho com torno mecânico é claramente observável em muitos artefatos existentes no Museu do Cairo. Dois pedaços de diorito na coleção de Petrie foram identificados por ele como sendo o resultado de verdadeiro torneamento em um torno mecânico. Acredito que podem ser criados objetos complicados sem a ajuda de maquinaria: basta simplesmente esfregar o material com um abrasivo como areia e usar um pedaço de osso ou madeira para aplicar pressão.
Entretanto há diversas relíquias que simplesmente não poderiam ser produzidas por qualquer processo de abrasão ou fricção exercido sobre a superfície. Petrie examinou uma prosaica tijela de pedra. Observando-a detalhadamente percebeu que nela havia um vértice afiado onde dois raios se cruzavam. Isso indicava que os raios tinham sido cortados em dois eixos separados de rotação.
Examinando outras peças de Gizé, achou outro fragmento de tigela que tinha as marcas de verdadeiro torneamento em torno mecânico. Também encontrei peças no Museu do Cairo que evidenciam o uso do torno mecânico em larga escala, a exemplo de uma tampa de sarcófago que, após examiná-la concluiu que as marcas das ferramentas deixadas na peça correspondem ao formato e localizam-se exatamente onde se poderia esperar que estivessem caso o sarcófago tivesse sido moldado com uso de tornos.
Uma das peças que Petrie estudou foi um desses miolos. Examinando as marcas de ferramenta que deixaram um sulco helicoidal simétrico nesse artefato tirado de um orifício perfurado em um pedaço de granito, Petrie concluiu que o ferramental egípcio penetrava a uma taxa de 0,25 milímetros a cada revolução da broca. As brocas atuais, por sua vez, só conseguem penetrar a uma taxa de 0,125 milímetros por revolução.
Isso significa que os antigos egípcios conseguiam cortar granito com uma taxa de alimentação maior ou mais profunda por revolução da broca do que as brocas mais modernas que existem hoje! Duas outras características das peças examinadas por Petrie também chamaram a atenção.
A primeira foi que tanto o orifício quanto o miolo dele extraído têm uma forma cônica que se afunila em direção à extremidade. A outra é que o sulco helicoidal entrou nos componentes do granito de forma estranha, ou seja, penetrou mais profundamente no quartzo (material mais duro) do que no feldspato (mais macio).
Também constatei este fato, e o afunilamento indica um aumento na superfície da área de corte da broca à medida em que ela ia cortando mais profundamente, consequentemente um aumento na resistência. Uma alimentação uniforme sob tais condições, usando método manual, seria simplesmente impossível.
Petrie teorizou que -“…foram aplicadas uma tonelada ou duas de pressão a uma broca tubular feita de bronze incrustada com jóias”- Porém, isto não leva em conta que sob centenas e centenas de quilos de pressão as jóias iriam, inevitavelmente, abrir seu caminho na substância mais macia, deixando o granito relativamente incólume depois do ataque.
O que esses estudiosos sugerem é que foi usado um pó abrasivo em conjunto com serras e brocas de cobre macio. Então, provavelmente, pedaços do abrasivo penetraram no metal da broca, permanecendo ali por algum tempo e formando dentes acidentais e temporários, criando assim o mesmo efeito que dentes intencionais e permanentes criariam e foi a retirada da broca de tubo para remover o miolo e inserir abrasivo novo no orifício que criou os sulcos na peça.
Mais eu também discordo desta questão: É duvidoso que uma ferramenta simples que está sendo rotacionada à mão permanece virando enquanto os artesãos a retiram do orifício. Igualmente, colocando a ferramenta de volta em um orifício limpo com abrasivo novo não seria necessário fazê-la girar até que estivesse no lugar.
Também há a questão do afunilamento no orifício e no miolo. Ambos proveriam efetivamente a liberação entre a ferramenta e o granito, tornando impossível sob tais condições o estabelecimento de contato suficiente para criar os sulcos.